Geografia Geral


Fatah e Hamas chegam a acordo sobre governo transitório
CAIRO — Os irmãos rivais do movimento palestino - o Fatah, do presidente Mahmud Abbas, e o Hamas, no poder em Gaza - chegaram a um surpreendente acordo nesta quarta-feira, no Cairo, para a formação de um governo transitório, tendo em vista a realização de eleições presidenciais e legislativas em um ano.
Essa reaproximação foi criticada pelo primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu. Ele reafirmou que o presidente Abbas deve "escolher entre a paz com Israel e a paz com o Hamas", enquanto a Autoridade Palestina pediu a ele que "escolha entre a paz e a colonização".
A Casa Branca afirmou que qualquer futuro governo palestino deve renunciar à violência e reconhecer a existência de Israel.
O Hamas, considerado uma organização "terrorista" pelos Estados Unidos, pela UE e por Israel, recusa-se a reconhecer o Estado hebreu.
O anúncio foi recebido com satisfação e até com alegria pelos jovens palestinos em Gaza e em Ramallah, segundo as primeiras reações registradas pela AFP.
As delegações palestinas, que se reuniram com o chefe dos serviços de inteligência egípcios, general Murad Muafi, chegaram a um "acordo completo em relação às negociações sobre todos os pontos, incluindo a formação de um governo de transição e a escolha de uma data para as eleições", segundo a agência oficial egípcia Mena.
O Egito vai agora pedir uma reunião de todas as facções palestinas para assinar um acordo de reconciliação no Cairo nos próximos dias, acrescentou a agência.
O chefe da delegação do Fatah, Azzam al-Ahmad, confirmou à AFP um acordo entre os dois movimentos para a formação de um "governo de independentes".
"Esse governo deverá preparar eleições presidenciais e legislativas em um ano", indicou.
O chefe da delegação do Hamas, alto dirigente e ideólogo do movimento em Gaza, Mahmud Zahar, confirmou que as duas partes haviam chegado a um acordo para formar um governo de transição reunindo "personalidades independentes".
As facções palestinas serão convocadas no final da próxima semana para assinar no Cairo este acordo que prevê, principalmente, a libertação dos "presos políticos", explicou Zahar à rede de televisão via satélite Al-Jazeera.


Conflitos na Líbia são face mais dura da crise política do Norte da África e do Oriente Médio 
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A crise política na Líbia, país onde foi preso o jornalista brasileiro Andrei Netto, é a mais nova e sangrenta etapa de um inédito movimento que se espalha pelo Norte da África e Oriente Médio em favor de maior liberdade e democracia na região. A pequena Tunísia abriu o ciclo, com uma ampla revolta que levou à renúncia, em 14 de janeiro, do então presidente Zine Ben Ali, que se encontrava no poder desde 1987. Em seguida foi a vez do Egito, onde, no dia 11 de fevereiro, caiu o governo de Hosni Mubarak, que durou 30 anos. O foco do movimento deslocou-se então para a Líbia, onde o líder Muamar Kadafi, há quase 42 anos no poder, ainda resiste a entregar o cargo.
A queda em sequência de dois governos até então considerados estáveis e os reflexos do movimento em países como Bahrein, onde chegou a ser suspensa a realização de um grande prêmio de Fórmula 1, tem sido comparada por analistas internacionais à queda de peças de um dominó - uma imagem que já havia sido criada, nos anos 60, para definir o temor do governo dos Estados Unidos diante do sucesso de guerrilhas de esquerda na Ásia.
Os momentos históricos, contudo, são bem diferentes. Se naquela época a Guerra Fria levou os Estados Unidos a enviar seus soldados ao Vietnã, preocupados com a crescente influência de Moscou na região, agora não parece haver direção ideológica dominante ou potência mundial inspirando os manifestantes. E nenhuma força externa interveio até o momento nos conflitos.
Na Líbia, a crise teve início em 15 de fevereiro - quatro dias após a queda do egípcio Mubarak -, quando cerca de 200 pessoas protestaram em Benghazi contra a prisão de um ativista de direitos humanos. A repressão policial foi incapaz de conter o movimento, que se espalhou por todo o país. Diante das manifestações, Sayf Al-Kadafi, filho do ditador líbio, foi à televisão para advertir para os riscos de uma guerra civil e afirmar que a Líbia não seria "como o Egito ou a Tunísia". Seu pai, por sua vez, anunciou em seguida que não deixaria o país e que morreria como "mártir", se necessário.
A crise líbia se agravou depois que Kadafi ordenou o bombardeio de cidades tomadas por manifestantes contrários a seu governo. A tensão espalhou-se por todo o país, onde forças rebeldes e tropas ainda fiéis a Kadafi disputam a cada dia o controle de importantes cidades. Neste dia 10 de março, Kadafi sofreu uma dura derrota internacional, com o reconhecimento, pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, do movimento rebelde como governo legítimo da Líbia. Cenas de trocas de tiros entre tropas rebeldes e tropas leais a Kadafi continuam a ser divulgadas por todo o mundo pelas redes internacionais de televisão. E indicam um cenário ainda incerto para a Líbia.